terça-feira, 22 de outubro de 2019

JERICOACOARA, DELTA DO PARNAÍBA, LENÇÓIS MARANHENSES, PARQUE 7 CIDADES, UBAJARA - MEIA DE JERI

Eu e minha mulher praticamos corrida e usamos essa desculpa para conhecer lugares. Pois bem, ela já havia estado em Jericoacoara e eu não. Tinha muita vontade de conhecer o lugar... Vai que, um determinado dia, recebo um email falando sobre a "Meia Maratona de Jeri", segunda edição,  vendida como a mais bonita do Brasil. Não tive dúvidas: "Vamos?" Ela respondeu que não queria participar porque, por conta o uso de lentes de contato, seria muito complicado correr em meio a toda aquela areia e vento, mas que me acompanharia com todo o prazer. Inscrevi-me imediatamente! A corrida aconteceu no dia 21 de setembro de 2019.

COMO FOI

Tomamos o vôo em Curitiba na noite do dia 18 e chegamos a Fortaleza por volta das 04:00 horas da madrugada do dia 19. Pegamos o carro alugado previamente e tocamos pela CE 085. Péssima estrada até Pecém, que é um porto importante da região, então,o tráfego de caminhões é intenso, e "detona" o asfalto. Depois melhora um pouco por alguns km e novamente torna-se muito ruim. Seguimos assim até a CE 162 que dá acesso a Lagoinha, uma bela vila de pescadores, mas com alguns restaurantes e pousadas bem sofisticados. Depois Mundaú e, por fim, Jijoca.










Chegando a Jijoca logo fomos assediados por diversas pessoas se oferecendo como guias. Como já sabíamos que isso é comum por lá, seguimos direto até a "Associação de Guias", onde ficam aqueles que são credenciados.

Existem basicamente 3 maneiras de seguir para Jeri:

Deixar o veículo no estacionamento, pagando R$ 30,00 e seguir com os veículos 4X4, tipo jardineira, dos guias, geralmente Toyota Hilux, onde os passageiros são transportados na carroceria, sem nenhum conforto e com o vento e areia na "cara" com o passeio incluso, ao preço de R$ 400,00 por pessoa.

De buggy, nas mesmas condições do primeiro... (não sabemos o preço, pois não nos interessou).

Ou seguir com o próprio veículo, acompanhado por um guia. Depois de algumas avaliações foi essa a maneira que escolhemos. Um detalhe: estávamos com um carro HB 20 1.0, que não é o mais apropriado por ser muito baixo.

Uma outra maneira que alguns tentam é seguir por conta própria, atrás das jardineiras e se arriscar a ficar atolado na areia, coisa que não recomendamos.

O guia que contratamos foi o Jonathan (88-99918-8915), que prontamente se propôs a guiar o carro. Eu recusei dizendo ser experiente em off-road, acostumado a guiar em lama e atoleiros e etc.  e ele me disse: "Mas na areia é diferente, dotô". Deixa comigo, respondi. Baixamos a pressão dos pneus do carro e seguimos. Depois de algum tempo, primeira  atolada, depois mais uma e mais uma. Aí eu entreguei os pontos.. "leva", eu disse, o que foi ótimo porque, além de não ter o estresse de guiar nas difíceis condições de areia fofa e dunas, pude curtir muito mais a paisagem.

Ele nos levou até o estacionamento da prefeitura e uma jardineira do próprio estacionamento nos levou até a pousada.

Combinamos com o guia para fazer o passeio leste no dia seguinte. Lindo passeio. Fomos até a "Árvore da preguiça" e lagoas Paraiso e Azul e praia do Preá. À tarde, fomos para a duna de Jeri ver o sol se pôr no oceano. Nós e a torcida do flamengo... crowd total.



















Dia seguinte, sábado, teria a corrida com largada às 15:00 horas, sob sol escaldante e muito, mas muito vento mesmo (!) contra.
Pela manhã fizemos um passeio até a famosa "Pedra Furada", depois de ter pego o kit da corrida num hotel chiquérrimo próximo à duna do pôr do sol, almoçamos e fomos para a largada.















A CORRIDA

A meia de Jeri é uma prova dura, 100% na areia fofa, iniciando com a subida do morro do Serrote até próximo à famosa "Pedra Furada", depois, à direita, pela praia em direção ao Preá. Sol na moleira o tempo todo e vento (forte) contra. Para quem pretende fazer uma corrida no Saara, por exemplo, é um bom treino... No km 10,5 acontece o retorno. Aí você pensa: "oba! vou aproveitar o vento a favor e vou voar"... ledo engano. As pernas já não obedecem mais e você não consegue mais fazer um bom ritmo, isso, sem contar o sol direto na cara.

Mas você vai e faz, já que se propôs a isso... A chegada para os simples mortais como eu acontece já no escuro. Vi muita gente reclamando que a organização não orientou a levar lanternas... Terminei a prova em 2 horas e 53 min., o que ainda me rendeu um troféu de 1º lugar na minha categoria (60+).

Vendida como a "meia mais bonita do Brasil", fica muito longe disso. Para ficar apenas com algumas provas de praia, temos corridas na Ilha do Mel, PR., Bombinhas, SC, Garopaba, SC, Ubatuba, SP, só para citar algumas, que são muito mais bonitas. Mas é uma prova desafiadora, isso sim, pelas condições que já descrevi anteriormente.










JERICOACOARA

Jeri, como é mais conhecida, é uma vila muito bonita, com ruas de terra, ou melhor, de areia, restaurantes, hotéis e pousadas para todos os bolsos e gostos. É também uma Babel. Ouvem-se todos os idiomas do mundo...

Como nós procuramos o que é mais barato para nós, dentro de uma certa exigência, conseguimos pousada e alimentação relativamente baratos.

O restaurante mais inusitado foi o "Peixe Brasileiro", bem no centro. Lá, você escolhe o peixe fresco (ou camarão, lagosta, etc.), o produto é pesado, você paga, ele é grelhado na brasa e servido com baião-de-dois, vinagrete, macaxeira e farofa. Muito bom!


















VOLTANDO AO PASSEIO:

Combinamos com o guia para nos encontrar no domingo pela manhã para fazermos o passeio oeste e seguir até Camocim, onde ficaríamos e ele voltaria de ônibus (ou van) para Jijoca. Por problemas particulares o Jonathan não pode ir mas mandou um substituto a altura, o Jaqueson (88-98802-3735).

Fizemos todo o passeio oeste. Muito lindo. Muitas dunas, mangue seco, lagoas. Numa delas, fizemos uma tirolesa. Muito irado. Almoçamos na lagoa de Tatajuba, numa das diversas barracas no entorno da lagoa, no "Restaurante do Mala". Aqui, o inusitado foi o cardápio. Quando pedimos para o garçom trazê-lo, ele demorou um pouco e veio com duas travessas na mão, numa delas, 4 tipos de peixe, na outra, lagostas e camarões, tudo fresco. Pedimos lagosta, claro!

Não nos esqueçamos que estávamos em um HB20 1.0, mesmo assim encaramos as dunas e a areia fofa. Aqui devo relatar que a ajuda do guia foi fundamental. Quando eu tinha algum tipo de dificuldade, o guia levava o veículo e nos deixava perplexos com o que ele conseguia extrair do carrinho.








Chegamos a Camocim, deixamos o Jaqueson, nosso guia, na rodoviária e dormimos numa pousada bem em frente ao desembarque da balsa que nos levou a cruzar o rio Coreaú.

Veja o vídeo de como foi este passeio:

https://youtu.be/FwpLBS5BCBI

Dia seguinte, 23/09/2019, seguimos para a "Praia do Cajueiro", já no Piauí, onde há um santuário de peixes-boi e um passeio para conhecê-los de perto. Nós não fizemos. Existe também aquele que é considerado pelos piauienses o maior cajueiro do mundo (em Natal - RN, também tem um desses...). Fomos conhecê-lo e também demos um pulinho na praia e encontramos um animal marinho que não sabemos qual é, mas é muito bonito.







O asfalto das estradas continua péssimo como, aliás, todo o trajeto até Barreirinhas, no Maranhão...

Seguimos para Barra Grande. Mais um local paradisíaco, porém muito caro. Menor que Jeri, mas muito mais chic. É o paraíso dos kite surfistas. Dezenas deles no ar, dando verdadeiro show.












Aqui, ficamos no hostal da pousada Torre de Chocolate, onde os quartos, ao invés de números, recebem o nome de bandas de rock das antigas, tipo, The Stooges, The Beatles, Rolling Stones, Beach Boys... Pagamos R$ 119,00 num quarto sem ar condicionado e, como de hábito em todo o litoral nordestino, sem água quente para banho. Aliás, nenhum dos hotéis, pousadas ou Air BnB onde ficamos, tinha água quente!

Dia seguinte seguimos para Parnaíba, passando pelas praias de Macapá, do Arrombado e da Atalaia.







Em Parnaíba nos fartamos de comer caranguejo, mas não tiramos fotos.

Na própria pousada, contratamos um passeio para o dia seguinte para ver a revoada dos guarás voltando para o ninhal ao fim do dia. Um espetáculo à parte...

No caminho, enquanto aguardava o sol se pôr, o guia nos levou para ver como é a cata do caranguejo e a diferença entre o macho e a fêmea. Também visitamos uma ilha com dunas lagoas de água doce.































Dia 26/09/2019 - 8º dia de passeio. Seguimos para Tutóia, já no estado do Maranhão e dali para Barreirinhas, onde nos hospedamos na casa de um casal maravilhoso (Edson e Patrícia), pelo AirBnB. No caminho passamos por Paulino Neves, conhecida como a região dos "Pequenos Lençóis" e onde há uma enorme usina de energia eólica. Voltaríamos aqui no dia seguinte, num passeio de quadriciclo.






Barreirinhas é uma cidade interessante. Fica às margens do rio Preguiças e possui uma enorme duna bem no início da cidade. Essa duna, com a ação dos ventos vai tomando conta da rua e se aproximando das casas. Nos contaram que antigamente a prefeitura retirava essa areia e a descartava longe dali. Porém o IBAMA proibiu essa prática. Agora a areia recolhida serve para retroalimentar a própria duna.









Dia 27 - Hoje foi o dia de um dos passeios mais bacanas de toda a viagem: passeio de quad por
praias, dunas, trilhas, lagoas, até Caburé, pelo qual pagamos R$ 300,00 com a operadora "Kabeção". Bom demais. Como eu estava acostumado a pilotar motos, senti um pouco de dificuldade no começo. Na hora de fazer as curvas eu inclinava o corpo, mas o quad não obedecia. Depois que "peguei o jeito" a coisa ficou divertida demais... Cada quad comporta duas pessoas. Fui com a Karin e num outro quad, um casal de Salvador, ela bahiana, advogada e ele paulista, piloto de avião. Na frente, ia nosso guia. Passeio maravilhoso pelos "Pequenos Lençóis", com direito a banho nas lagoas, dunas e a passar sob os enormes "cata-ventos" do parque eólico.

Passamos também pelo famoso restaurante onde os macaquinhos "roubam" pertences dos frequentadores...




















Para encerrar, fomos brindados com um maravilhoso pôr-do-sol visto do topo de uma duna. Regressamos à noite.

Aqui foi possível ver como é difícil a vida de quem mora nas redondezas, que tem que lidar diariamente com a força e a incerteza dos ventos que pode modificar tudo de uma hora para outra... Nos deparamos com diversas casas e até uma escola enterradas pelas dunas!!!






Em Barreirinhas, como em quase todo o nordeste, as leis de trânsito são próprias: motociclista não usa capacete, famílias inteiras em cima de uma só moto, ultrapassagem pela direita, carros e motos na contra-mão de direção, tudo é permitido. Um caos que só eles entendem.

Dia seguinte, aproveitamos a manhã para passear pela cidade. Visitamos o Paraíso Cultural Baial Ramos, um centro cultural fundado por ex-promotor da cidade que gostava de poesia e cultura de  modo geral. Lá se anda por um labirinto com poesias do próprio Baial, de Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Bob Marley e tantos outros...








À tarde fomos a mais uma lagoa, a Bonita. O acesso é feito por 4X4 até o pé de uma enorme duna que tem que ser vencida caminhando para depois descer novamente até chegar às lagoas. Depois, regressa-se até o topo da duna novamente e espera-se mais um pôr-de-sol. Novamente desce-se a duna, embarca-se no 4x4 e regressa-se à cidade.














Em todos os passeios, os carros passam pelos locais de hospedagem para pegar os passageiros e na volta para deixá-los. Ou seja, sem preocupação.

Aqui, contratamos os passeios com a Malibu Turismo, que foi indicada pelo casal que nos hospedou. Nota 10 para eles.

Dia 29/09/2019 - 11º dia. Seguimos para Santo Amaro do Maranhão, considerada a outra porta de entrada dos "Grandes Lençóis". Estrada até que razoável para os padrões a que já estávamos acostumados. Porém com alguns trechos traiçoeiros...

Para se chegar a Santo Amaro, deixa-se o carro no estacionamento uns 2 ou 3 km antes da cidade e toma-se um transfer (camionete 4x4) que leva até 6 pessoas. Caso a lotação esteja completa, o preço a ser pago é de R$ 10,00 por pessoa. No nosso caso, como estávamos só os dois, nos pediram, inicialmente R$ 50,00. Negociamos e chegamos a R$ 30,00 para os dois.

Neste trecho, é necessário sim, um veículo 4x4 pois tem muita areia fofa e a travessia um rio de profundidade razoável e traiçoeira. Sem conhecimento do leito do rio, corre-se o risco de cair em algum poço e necessitar de auxílio de um trator para ser retirado dali.

Ficamos na Pousada Beira Rio, do Sr. Antônio. Pessoa muito simpática, que já morou no Iraque, Colômbia e outros estados brasileiros. Nos deu dicas valiosas sobre os passeios na região. A pousada é simples mas muito acolhedora e com ar condicionado, o que faz toda a diferença, além de um café-da-manhã delicioso. Como bônus, o rio fica nos fundos da pousada e proporciona um belo banho aos hóspedes.

Almoçamos no restaurante Amaro, bem na entrada do vilarejo. Muito bom!












Aqui os passeios foram contratados junto à cooperativa dos guias e todos os que nos atenderam foram super eficientes.

No dia seguinte, dia 30/09/2019, fomos conhecer a comunidade de Betânia. Passeio de dia inteiro, por R$ 90,00 pp, mais R$ 5,00 pelo transporte em barco. Antes de chegarmos à comunidade, conhecemos algumas belas lagoas .

O almoço foi no restaurante Novo Horizontes. Muito fraco! As opções eram peixe, camarão ou carne-de-sol com o acompanhamento de baião-de-dois, feijão, vinagrete e batata frita. O peixe, a R$ 35,00 até que era razoável, mas caímos na besteira de pedir camarão (R$ 45,00). Tão pouco que não dava nem para a entrada... E cerveja a R$ 10,00. detalhe: pagamento só em dinheiro. Não aceitam cartão!















Neste passeio, dividimos o carro com três moças de Brasília. Na volta, assistimos mais um maravilhoso pôr-do-sol.






















Chegamos de volta à pousada à noite e como era segunda-feira, tivemos dificuldade em conseguir lugar para comer. Tivemos que nos contentar com uma pizza no restaurante Amaro, que era o único aberto.

01/10/2019 - Seguimos para Piracuruca, PI, para conhecer o Parque Nacional de 7 Cidades. Para variar, péssimas estradas até chegar à BR 343, esta sim, em boas condições. Dormimos na cidade, para visitar o parque no dia seguinte.

O Parque Nacional de Sete Cidades foi criado em 1961 por decreto do então Presidente da República Jânio Quadros, possui cerca 6 mil hectares de área e tem como objetivo preservar ecossistemas de grande relevância ecológica e a beleza cênica e é constituído, em sua maior parte pela flora típica do cerrado. Lá encontram-se formações rochosas de formatos diversos e algumas inscrições rupestres.

A visitação não é cobrada, porém é necessária a contatação de um guia, pelo qual pagamos R$ 90,00 e foi uma visita muito produtiva.


























03/10/2019 - 15º dia. Seguimos para Ubajara, CE,  para conhecer o Parque Nacional de Ubajara.

Trata-se de uma Área de Conservação e Proteção Integral da Natureza localizada na serra da Ibiapaba, com mais de 6 mil hectares de área. É uma área onde existem 2 tipos de ecossistemas diferentes, uma úmida - mata atlântica e outra seca - cerrado e caatinga. Possui diversas nascentes e cavernas, sendo que apenas uma está aberta à visitação, tornando-se, inclusive, o cartão postal do parque. Seu acesso se dá por uma trilha de cerca de 7 km para ir e mais 7 km para voltar, o que leva o dia inteiro para ser percorrido.

No local havia um teleférico que evitava essa caminhada, mas foi desativado e passa por reforma. Deve ser reinaugurado em breve.

No percurso para a gruta, por sinal muito bonita e rica em espeleotemas, depara-se com diversos animais (macacos, mocós, lagartos, etc.) e várias especies de árvores, além de várias fontes de água. Mesmo assim é recomendado que se leve bastante água para beber, dado o calor que faz na região.
























04/10/2019 - 16º dia. Regresso a Fortaleza, passando por Sobral para conhecer o museu do eclipse e a estátua de Einsten.

O Museu do Eclipse foi inaugurado em 29 de maio de 1999, no local onde foi observado o eclipse que comprovou a Teoria da Relatividade formulada pelo cientista alemão, para comemoração dos 80 anos do fenômeno.

O museu foi totalmente restaurado e é um marco na cidade.












Continuamos pela BR 222 até Fortaleza, onde devolvemos o carro à locadora e embarcamos de volta a Curitiba, onde chegamos na manhã do dia seguinte, já que houve uma demorada conexão em São Paulo.

Na época da viagem eu estava com 66 anos e a minha companheira com 58, o que prova que basta ter vontade de conhecer que nada é impeditivo para uma boa viagem.

Como gostamos muito de viajar e já temos alguma quilometragem na bagagem, estamos adquirindo um pequeno motorhome, na verdade um camper (aquele que é colocado sobre a caçamba de uma caminhonete) para nos tornarmos mais independentes.

Até a próxima...